Jayme Caetano Braun homenageou a Estância

Para enaltecer a Estância, lá pelos anos 60, Jayme Caetano Braun, um dos grandes poetas do Rio Grande do Sul, escreveu a poesia Estância Província de São Pedro, que transcrevemos abaixo.
Nota: A leitura dessa poesia para os Conselheiros foi registrada na ata de reunião do Conselho Superior de 30 de março de 1960.

Estância Província de São Pedro

1)
Patrício! Apeie no mais...
Ate o pingo no Palanque.
Puxe dum cepo e se abanque
Pra tomar um chimarrão,
A seiva da Tradição
Que não há geada que abrande
Pois nasceu como o Rio Grande
Rodeando um fogo de chão.

2)
Pois já neste chão batido
Do Continente Del’Rey
Onde o gaúcho de lei
Surgiu, chupando fumaça,
Junto a china, flor de graça,
Que manoteava na trança,
E a par do pingo e da lança
Deu consistência à uma raça.

3)
Aqui, como um sovéu xucro,
Torceram Pampa e Coxilha.
Esta é a primeira rodilha
Das tantas feitas após.
Patrício! Escuta esta voz
Na macega e na restinga,
E o vento que choraminga
Chamando nossos Avós.

4)
São vozes da raça andeja
Que se cruzam nas campinas,
Emanações campesinas
Da velha Pampa machorra.
Rastos d’água atrás da zorra
Que o vento vai apagando...
É o pago que anda implorando
Pra que a Tradição não morra.

5)
Patrício! A Estância Província
De São Pedro, é algo de sério.
É o próprio pago gaudério
Quinchando um rancho seguro
Para mostrar ao futuro
Sob o céu que nos encobre
Tudo o que temos de nobre
Tudo o que temos de puro.

6)
Será um rancho de verdade
Com tudo o que um rancho tem.
Galpão bem grande também
De construção primitiva
Guardando a chama votiva
Do tição, que não se apaga,
Proclamação nesta plaga
Que a Tradição está viva.

7) Salão grande pra Fandango
Pra Música-Trova e Poeta.
Carreira de cancha reta
No velho estilo campeito,
Um tambor de rinhedeiro
Pra tirar cisma de “puáva”.
Cachaça, jogo de Tava
E até petiço aguateiro.

8)
Canchas para gineteadas
Concursos de rédea e laço!
Onde o índio estenda o braço
Ou gineteie sem medo.
Petiços para o piázedo
E o velho Gadinho de Osso
Que foi no Rio Grande moço
Sempre o primeiro brinquedo.

9)
Preservação do fraqueiro
E do velho caracu
Tudo, tudo o que há de cru,
O que há de xucro e de lindo,
Gauchada se reunindo
Do mais novo ao mais velhusco
E até latidos de cusco
Dizendo que alguém vem vindo...

10) Isso é a Estância, amigo,
No mais pálido resumo.
Tudo o que há de suco e sumo
No velho Pago querido
O passado ressurgido
Que o bom cerne inda conserva
Na cuia e na lata de erva
Do Rio Grande evoluido.

11)
Será em síntese o Rio Grande
Que já nasceu a cavalo,
Cola atada à canta-galo,
Xucro assim como tem sido,
Às vezes mal compreendido
Mas sempre no mesmo entono
Eterno guardião do sono
Do Brasil adormecido.

12)
Assim sendo, meu patrício,
A Estância está a seu dispor
Seja também construtor
Desta legenda em granito,
Projetando ao infinito
Num culto campeiro e são
A gente e a Tradição
Do velho Pago bendito.
Biografia
Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/
Payador, poeta e radialista, Jayme Caetano Braun nasceu na Timbaúva (hoje Bossoroca), na época distrito de São Luiz Gonzaga, na Região das Missões no Rio Grande do Sul.
Durante sua carreira fez diversas
payadas, poemas e canções, sempre ressaltando o Rio Grande do Sul, a vida campeira, os modos gaúchos e a natureza local.
Jayme sonhava em ser
médico mas, tendo apenas o Ensino Médio, se tornou um autodidata principalmente nos assuntos da cultura sulina e remédios caseiros, pois afirmava que "todo missioneiro tem a obrigação de ser um curador".
Aos 16 anos mudou-se para
Passo Fundo, onde viveria até os 19 anos. Na capital do Planalto Médio, Jayme completou seus estudos no Colégio Marista Conceição e serviu ao Exercito Brasileiro.
Jayme foi membro e co-fundador da
Academia Nativista Estância da Poesia Crioula, grupo de poetas tradicionalistas que se reuniu no final dos anos 50, na capital gaúcha.
Trabalhou, publicando poemas, em
jornais como O Interior e A noticia (de São Luiz Gonzaga). Passa dirigir em 1948 o programa radiofônico Galpão de Estância, em São Luiz Gonzaga e em 1973 passa a participar do programa semanal Brasil Grande do Sul, na Rádio Guaíba. Na capital, o primeiro jornal a publicar seus poemas foi o A Hora, que dedicava toda semana uma página em cores aos poemas de Jayme.
Como funcionário público trabalhou no Instituto de Pensões e Aposentadorias dos Servidores do Estado e ainda foi diretor da
Biblioteca Pública do Estado de 1959 a 1963, aposentando-se em 1969. Na farmácia do IPASE era reconhecido pelo grande conhecimento que tinha dos remédios.

Marcelo (e), enteado de Jayme, ao lado do idealizador do Memorial em sua homenagem em Passo Fundo.
Em
1945 começa a atuar na política, participando em palanques de comício como payador. O poema O Petiço de São Borja, publicado em revistas e jornais do país, fala de Getúlio Vargas. Participa das campanhas de Ruy Ramos, com o poema O Mouro do Alegrete, como era conhecido o político e parente de Jayme. Foi Ruy Ramos, também ligado ao tradicionalismo, que lançou Jayme Caetano Braun como payador, no 1º Congresso de Tradicionalismo do Rio Grande do Sul, realizado em Santa Maria no ano de 1954.
Casou duas vezes, em 1947, com Nilda Jardim e em 1988 com Aurora de Souza Ramos . Teve três filhos, Marco Antônio e José Raimundo do primeiro casamento e Cristiano do segundo.
Anos mais tarde participaria das campanhas de
Leonel Brizola, João Goulart e Egidio Michaelsen e em 1962 concorreria a uma vaga na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul pelo PTB, ficando como suplente [1].
Veio a falecer de
parada cardíaca em 8 de julho de 1999, por volta das 6h, em Porto Alegre. Seu corpo foi velado no Palácio Piratini, sede do governo sul-riograndense, e enterrado no cemitério João XXIII, na capital do estado. Para o dia seguinte estava programado o lançamento de seu último disco Exitos 1.

Obra
Lançou diversos livros de poesias, como Galpão de Estância (
1954), De fogão em fogão (1958), Potreiro de Guaxos (1965), Bota de Garrão (1966), Brasil Grande do Sul (1966), Passagens Perdidas (1966) e Pendão Farrapo (1978), alusivo à Revolução Farroupilha. Em 1990 lança Payador e Troveiro, e seis anos depois a antologia poética 50 Anos de Poesia, sua ultima obra escrita.
Publicou ainda um dicionário de regionalismos, Vocabulário Pampeano - Pátria, Fogões e Legendas, lançado em
1987.
Jayme também gravou
CDs e discos, como Payador, Pampa, Guitarra, antológica obra em parceria com Noel Guarany. Sua ultima obra lançada em vida foi o disco Poemas Gaúchos, com sucessos como Payada da Saudade, Piazedo, Remorsos de Castrador, Cemitério de Campanha e Galo de Rinha.
Gravou, ainda, com
Lúcio Yanel, Cenair Maicá e Luiz Marenco.
Entre seus poemas mais declamados pelos poetas regionalistas do país inteiro, destacam-se Bochincho, Tio Anastácio, Amargo, Paraíso Perdido, Payada a Mário Quintana e Galo de Rinha.
Seu nome batiza ruas, praças e principalmente
CTGs no Rio Grande do Sul e em todo o Brasil.

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